sábado, 17 de junho de 2017

História da Construção da Capela do Sagrado Coração de Jesus do Sítio Monte


Um exemplo a seguir

Por devoção herdada de seus pais, a Sra. Maria de Lourdes de Sousa (In Memoriam), fez uma promessa através da qual passou-se a celebrar uma missa todos os anos na sua casa, em intenção de todos os que fossem “bons ou maus, mortos ou vivos”. Inicialmente, esta missa era celebrada pelo Pe. Vicente Alves Feitosa, que o fez por cerca de vinte anos, dando lugar a outros reverendos apenas quando sua saúde já não mais o permitia fazê-lo. Outros como o Frei Estanislau José de Sousa, conhecido como o Padre da Mãe Júlia, o Pe. Andriola, o Frei Dalmir e, por ultimo, Pe. José Almeida, deram continuidade às celebrações em favor da promessa da fervorosa devota.

Mais adiante, Dona Lourdes pediu ao seu irmão, conhecido como Antônio Português, para construir um pequeno oratório em frente a sua casa - Como boa devota do Pe. Cícero Romão, ela desejava sentar-se no alpendre e ficar observando a imagem do Padre, que ali fora colocada, e que servisse também para que todos que por ali passassem, pudessem fazer suas orações e preces ao Santo Padre do Nordeste. Na ocasião, também foi construída uma pequena capelinha dedicada a Jesus, Maria e José. Dali em diante, nesta mesma capelinha, passou-se a ser celebrada a novena dedicada à comemoração ao aniversário do Padre Cícero, no dia 24 de março.

Mergulhado neste ambiente de muita fé e devoção, se via o menino Oliveira. Última prole de uma série de onze irmãos, José Oliveira de Sousa acabou por seguir os passos da sua mãe, se tornando assim, mais tarde, um líder religioso e o braço de ferro na construção da capela da comunidade do sítio Monte. Ele administrou a construção daquele templo sempre com muito afinco e assim o faz até hoje na administração do mesmo. Com a visibilidade que ganhou, se tornou influente em meio aquela gente, por isso, não demorou muito e logo se tornara também líder comunitário e político naquela e nas localidades vizinhas.

Início do início

A saga de José Oliveira Sousa iniciou-se em 1994 quando veio a pedir autorização ao então pároco de Caririaçu, Pe. Almeida, para transmitir o evangelho às crianças da comunidade através do catecismo. O vigário não só atendeu de pronto a solicitação, como deu - lhe as orientações pertinentes ao tema, além dos materiais necessários, com os quais passou a ensinar. Inicialmente eram somente aos sobrinhos e vizinhos, porém, mais tarde, esse universo se estendeu e passou a abranger crianças das comunidades dos sítios Portão, Monte, Bananeiras, Izidório e Caboclo.

Em 1997 ajudou a impulsionar as Santas Missões Populares1 que visitava as famílias com a imagem de Nossa Senhora da Conceição e rezava o Ofício da Mãe de Deus2. As Missões foram encerradas em Maio de 1998 quando foi celebrada uma santa missa e a Coroação de Nossa Senhora3, em fronte a sua residência.

No ano seguinte, juntamente com a Professora Neide Vieira Silva, passou a trabalhar também com os jovens, na catequese do Crisma. Eram setenta jovens, ao todo, divididos em duas turmas. Quarenta deles ficaram na sua responsabilidade e recebiam os ensinamentos na capelinha de Jesus, Maria e José, aquela construída por sua mãe. Já os trinta restantes, ficaram a cargo da professora Neide, ela que fez da Escola Severino José de Araújo o lugar de onde proferiria seus ensinamentos.

Os Primórdios

A formação desta primeira turma de crismandos foi, talvez, o passo mais importante para a fundação da capela e tantas outras realizações. Isto porque, foram estes jovens os responsáveis por estes feitos e que, literalmente, puseram a mão na massa que concretizou tudo. Foi através deste primeiro contato que eles se viram atraídos a se unirem e se organizarem e que esta ação certamente seria – e foi – o fator de mudança da comunidade.

Antes disso, já em 1997, na ocasião do encerramento das Missões, em observância a demonstração de empenho e vontade da comunidade, o Pe. José Almeida, logo após a bênção final da missa, convidou-a a escolher o seu padroeiro. Esse convite foi muito importante, pois essa escolha daria a ela a oportunidade de poder participar da grande procissão da noite das comunidades da Festa do glorioso São Pedro, se juntando aos fiéis vindos de seus sítios, por mais longe que se encontrem, trazendo consigo, em andor4, todo ornamentado com flores e tecidos, dos mais belos, as imagens dos seus padroeiros, para reverenciar o seu patrono maior, São Pedro, na sede do município. 

Este acontecimento era um indício que algo de grande valia estaria por vir.  No mínimo incentivava a predisposição daquela gente em galgar seus objetivos, ainda que eles não estivessem definidos ou que não fossem nem cogitados naquele momento. O fato é que também serviu de alicerce para a edificação daquele templo.

Mas foi em 2001 que se deflagraram uma série de eventos que fez deste, um ano de notável relevância, se não o mais importante deles.

Em Junho, de 13 a 22, é celebrada a primeira festa do seu padroeiro, o então escolhido, Sagrado Coração de Jesus. Foram nove noites de intensos louvores e festejos. Logo na abertura aquele povo demonstrou, com veemência, toda a sua devoção. O noitário5 estava a cargo do Apostolado da Oração, sua presidente Maria Rodrigues e mais duas zeladoras, Celina Silva Oliveira e Izabel da Silva Lima. Nele houve uma procissão saindo da matriz de São Pedro com destino ao Sítio Monte. Ao chegar às proximidades do sítio Rua Nova, estava um grande número de pessoas que esperavam ansiosas a passagem do andor, trazido nos ombros por seus confrades da sede, para acompanhá-los no cortejo. Fixado no andor, vinha a imagem do seu santo padroeiro, por sobre as cabeças dos seus seguidores, soberano aos que ali estavam eufóricos e orgulhosos do que seria a origem de uma sublime tradição.

Logo após as comemorações, já no dia primeiro de Julho deram-se início aos trabalhos com a primeira equipe que se preparava para começar a fazer os tijolos que seriam usados para por de pé e materializar os seus sonhos, a Capela para o Sagrado Coração de Jesus. Esta atividade perdurou até o dia 10 de agosto do mesmo ano quando já dispunham de 50 milheiros de tijolos – 50.000 tijolos – Abrindo caminho para o início da construção da capela que se deu no mês posterior, em Outubro.

Ainda em 2001, mais precisamente aos 4 de novembro, foi fundado o Grupo de Jovens JUSM (Juventude Unida do Sítio Monte). Seus membros foram os responsáveis por diversos trabalhos realizados na comunidade, dentre eles, trabalhos artísticos, culturais, eventos sociais, eventos religiosos, encontros com outros jovens de outras comunidades e, por fim, execução do projeto da capela. Neste último, vale salientar a entrega completa dos integrantes nas tarefas que lhes foram incumbidas.


O Erguer, mãos a obra!


O primeiro ato realizado para que se fosse erguido o humilde santuário foi a produção dos tijolos feita pelo próprio grupo, em apenas dois meses, aproximadamente. Um detalhe aqui é que se deve dar destaque ao empenho das mulheres do grupo que trabalharam, no mínimo, de igual para igual com os companheiros de equipe. Feito isso, iniciou-se então a demarcação do terreno e a escavação do alicerce no local escolhido. A pequena capelinha de Jesus, Maria e José seria então substituída pela nova, maior em termos de tamanho - maior até que muitas capelas da região – mas que teve como pedra fundamental a humilde e pequenina que surgiu de uma grande devoção. Um passo adiante, necessitou-se da mão-de-obra de pedreiros para que fossem sentados os primeiros tijolos, a base, sempre auxiliados pelos membros do grupo que nesta fase executavam, sobre tudo, as atividades de servente. 

Sapata erguida e paredes a meia altura, o JUSM volta com força total, munidos de picaretas, pás e carrinhos-de-mão, além de muita alegria e descontração. A ordem agora era fazer o aterro do piso. Ao mesmo tempo em que se cavava o solo de uma parte exterior, onde hoje se cultiva um pequeno jardim, a terra era transportada nos carrinhos por sobre tábuas e tijolos até o interior da obra. Lá ela seria "batida" e quando compactada, estaria pronta para receber o piso. Neste estágio, as celebrações dos domingos, o terço do sábado, a catequese, as reuniões do grupo e vários outros eventos e atividades já eram realizados naquela que seria uma parcela já erguida da capela, deixando o alpendre da residência de José Oliveira, onde eram realizados.

Neste meio tempo, as paredes continuavam a subir, e subiriam até quando se encontrassem prontas para receber o teto. Agora, porém restaram apenas atividades como a própria colocação do teto, o reboco, fazer o piso, manufatura das portas, dos bancos, em fim, no geral, eram trabalhos de acabamento e que, na maioria, necessitavam de mão-de-obra especializada para serem realizadas, e isso exigia mais recursos financeiros do que a os esforços físicos diretos dos membros do grupo. Desta forma, restou para o JUSM mudar sua estratégia e voltar suas atenções para outras práticas que já eram desenvolvidas antes, mas que agora a ocasião as tornaram essenciais. Estas práticas eram leilões, bingos, rifas, pedir contribuição em outras comunidades, além de terem colocado barraca na vaquejada da cidade, plantado roça no sítio Poço de Paus, dentre outras ações. O empreendimento contou também com o apoio e ajuda de muitos amigos e devotos, o que foi indispensável para se chegar ao patamar que ela se encontra hoje, depois de 16 anos do início das obras, em 2017, diríamos está concluída. Tudo isso, mesmo em frente a diversos problemas enfrentados neste espaço de tempo, como a desestruturação dos grupos de Jovens JUSM e Renascer, este último que surgiu do desmembramento do primeiro, a ideia continuou fixa e a andar.


O hoje em dia, vendo com os olhos.


Hoje, a capela do sagrado coração de Jesus, da comunidade do sítio Monte, Portão e vizinhas, está erguida, coberta e completamente revestida, interna e externamente. Possui no piso uma bela cerâmica e nas paredes cobertura de tinta a látex, o teto está forrado com material polimérico, o PVC. No altar, uma réplica do altar da matriz de São Pedro, em menores proporções, é claro. Em dias comuns, podemos encontrar no centro e no lugar mais alto, a imagem do Sagrado Coração de Jesus, tendo do seu lado direito, em uma pilastra, a de Nossa Senhora do Carmo e, em outra, no esquerdo, a de Nossa Senhora Aparecida. Pouco mais abaixo, por sobre uma base ornamentada com flores, em cada lateral, encontra-se uma belíssima luminária composta por pequenas luzes sobre cinzentos mastros de variados tamanhos, que faz-se encontrarem iluminando, quando ligadas, entre a imagem do Coração de Jesus e as da sua mãe. No mesmo nível de altura, porém desta vez, ao centro e mais adiante, geralmente ver-se um vistoso ramalhete de flores, o que também se observa nas laterais, em níveis mais baixos do altar. Logo abaixo deste ramalhete central, se encontra o sacrário, em vermelho abundante e detalhes dourados que contém imagens de uma hóstia resplandecente e erguida de um cálice na sua parte frontal. No Presbitério6, logo á frente, encontra-se  a mesa, simples, mas que cumpre com seus objetivos e do seu lado uma base de madeira usada para apoiar os papéis, livros e bíblias nas leituras. Logo atrás, Vê-se uma cadeira de madeira feita de assento acolchoado e de ricos detalhes, digna de bastante atenção. No mais, nada de anormal, vidraças coloridas espalhadas pelas paredes laterais, suas grandes portas de metal, as portas de acesso à sacristia, o pequeno sino, suas lâmpadas.

O hoje em dia, vendo com a alma.

Hoje, a capela do sagrado coração de Jesus, da comunidade do sítio Monte, Portão e vizinhas, está erguida, coberta e completamente revestida, interna e externamente. Ela traz um misto de sucesso, força, devoção e turbulência. Está marcada pela alegria de quem esteve ali fazendo de trabalho pesado, diversão. Jovens que ganharam um objetivo que lhes deram sentido, vida, amizades, gargalhadas, aprendizado, felicidades, bons momentos e crescimento. Muitas vezes também, encontraram raivas, tristezas, desavenças, separações, lágrimas, desapontamento e crescimento. Hoje ela está lá, erigida, firme. Tirando os que querem voltar, muitos se afastaram nesse meio tempo, muitos se achegaram, muitos se foram e alguns continuam lá, exatamente como ela. Destes, alguns cheios de orgulho e outros sem nem saber qual passe de mágica a plantou ali, nem qual a regou para que crescesse a contento.  



______________________________

- O oratório e a imagem do Padre Cícero, fruto da devoção da Senhora Maria de Lourdes ainda estão lá, erguidos em fronte a sua casa, a poucos metros da estrada, onde hoje é o terreiro da capela, cumprindo seu papel de servir de inspiração para quem ainda passa por ali.


- Ate hoje José Oliveira trabalha na catequese das crianças e jovens da comunidade.


- O Pe. José Almeida que tanto apoio deu a comunidade foi transferido para outra paróquia.

- A procissão saindo da sede da cidade até o Sítio Monte perdura até hoje, sendo que agora ela é realizada sempre na tardinha do último domingo da festa do Sagrado Coração de Jesus, antecedendo a missa de encerramento.

- Agradecimentos a Oliveira, agora meu compadre então, ao compadre Oliveira, que disponibilizou a leitura na qual usei como base para escrever este artigo. Tal texto de sua autoria foi escrito e declamado em missa festiva dos 10 anos da construção da Capela do Sagrado Coração de Jesus do Sítio monte.




1Santas Missões Populares - As missões populares na Igreja Católica consistem em uma série de pregações, palestras e celebrações dirigidas ao povo cristão, com o objetivo de avivar-lhe a fé e a vida cristã e impulsionar a vida comunitária nas comunidades paroquiais e comunidades eclesiais.

2Ofício da Mãe de Deus – Oração escrita originalmente em latim, na Itália do século XV, pelo franciscano Bernardino de Bustis, com o intuito de proteger a doutrina da Imaculada Conceição dos inúmeros ataques que vinha sofrendo da parte dos hereges desde o século XII.

3Coroação de Nossa Senhora - Solenidade que objetiva saudar, louvar e honrar a Virgem Maria, reconhecendo a Sua Maternidade Divina e sua Maternidade Espiritual da humanidade.

4Andor - Padiola portátil e ornamentada na qual se transportam ao ombro as imagens nas procissões.

5Noitário – Cada dia de uma novena nos festejos do padroeiro de uma localidade.

5PresbitérioLugar onde fica o altar, o presidente da celebração, ministros, leitores e coroinhas. Em geral é mais alto, separado por um ou mais degraus da parte da Igreja onde fica a assembleia.

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